A revolução do ePub


tipo: Artigos
publicado em: 01 de Agosto de 2017
por: Selma Morais e Reinaldo Ferraz
idiomas: PT-BR

No início dos anos 2000 a indústria da música foi impactada pelo formato digital e pela sua distribuição online. Essa indústria reinventou modelos de negócios e de distribuição de conteúdo utilizando a Internet e a Web. O mesmo aconteceu (alias, vem acontecendo) com a indústria cinematográfica. O modo como consumimos conteúdo sejam livros ou revistas não é mais o mesmo de 17 anos atrás e vem mudando de forma gradativa. Tudo isso está relacionado com padrões abertos.

A ideia de criar um padrão para publicações digitais (ebooks) não é nova. Lá mesmo nos anos 2000, já existia um padrão chamado “Open eBook Publication Structure”, que já trazia em grande parte da sua estrutura  elementos conhecidos do HTML (na verdade, do XHTML). Esse padrão foi construído pelo IDPF (International Digital Publishing Forum), instituição que tem como objetivo promover padrões para publicações digitais.

A documentação foi evoluindo e surgiram novas especificações até chegar a algo familiar nos dias de hoje: o formato ePub.

O formato ePub foi criado com o objetivo de ser um formato livre e aberto para a publicação de ebooks. O formato evoluiu junto com as tecnologias Web, e atualmente o ePub 3.0 tem suporte a diversos recursos importantes do HTML, como a marcação semântica e a possibilidade de formatação via CSS.

Era de se esperar que as publicações digitais trouxessem novas possibilidades para o usuário. Diferente do livro de papel, a versão digital possibilita a interação com conteúdos externos de forma muito mais fácil. A maioria dos e-readers atuais disponibilizam ferramentas de tradução e até de marcação de conteúdo, possibilitando que o  leitor compartilhe as marcas com outras pessoas.

A interatividade é algo que também ampliou as possibilidades de consumo de livros. Com um hiperlink em um determinado termo na publicação podemos acessar instantaneamente aquela referência e retornar onde o usuário havia parado a leitura. No livro de papel o usuário depende de um computador, tablet ou smartphone para fazer isso.

Outro fator importante que vem a favor dos livros digitais é a questão da acessibilidade. Como a base dos ePubs são constituídos em HTML, existem diretrizes que garantem que o conteúdo seja acessível para pessoas com deficiência. Pense em antigamente como era para uma pessoa cega ter acesso ao conteúdo de um livro: o material deveria ser transcrito em braile, gravado em áudio ou lido por outra pessoa. Com o formato de livros digitais, tecnologias assistivas possibilitam que qualquer pessoa possa ler o conteúdo de um ebook, desde que este siga as diretrizes de acessibilidade corretamente.

Construir um ePub é mais simples do que você imagina. Caso você tenha curiosidade de entender como é a estrutura de um ePub, altere a extensão do arquivo de “nome-do-livro.epub” para “nome-do-livro.zip” e abra essa pasta compactada. Você vai se surpreender em perceber que a estrutura de um ePub se parece muito com a estrutura de uma página HTML: Marcação semântica, imagens, arquivos para estilização etc.

O que podemos esperar da evolução do ePub?

Muita coisa. Especialmente porque no início de 2017 o IDPF se juntou ao W3C para a padronização das publicações digitais que eram conduzidas pelo IDPF. Com isso, a padronização do ePub vai usufruir da expertise do W3C em padronizar tecnologias abertas que são desenvolvidas pelo consórcio.

Talvez no futuro tenhamos livros dinâmicos, que se conectam com outras publicações utilizando a Web Semântica, consumindo e trocando informações entre ebooks, ou até mesmo conteúdos multimídia dentro das páginas. Os livros poderão se comportar de muitas formas, dependendo da plataforma de leitura, seja  no computador, no e-reader ou imprimindo o arquivo. O usuário é quem escolhe a melhor maneira de consumir o conteúdo da publicação. Isso sem falar que a distribuição digital é muito mais simples e mais barata do que a do livro impresso.

Estamos passando pela mesma mudança na maneira de distribuir conteúdo que aconteceu com a música e com os filmes. Da mesma forma que essas indústrias reinventaram seus modelos de negócios, a indústria literária também terá que se adaptar a novos formatos e criar seus próprios modelos (e já está fazendo isso). Pensando em todos esses aspectos, o W3C Brasil e o Ceweb.br estão trabalhando com diversas iniciativas para fomentar a adoção de padrões abertos para as publicações digitais no Brasil. Informações sobre essas iniciativas estão disponíveis em www.w3c.br e www.ceweb.br.  

De agora em diante podemos acompanhar de perto essa (r)evolução do ePub e usufruir de tudo o que essas mudanças trarão de bom para nós usuários e consumidores de conteúdo digital.


*Este artigo foi publicado originalmente na revista impressa do iMasters, edição 23, página 46.