Apêndice – Recomendações adicionais

A.Certificando-se de que os dados publicados possuem valor para os usuários

A elaboração de um conjunto de regras, procedimentos e norteadores que devem ser observados pelos publicadores de dados tem como objetivo garantir uma padronização e o valor para os dados publicados pelas diversas entidades do governo. Essa padronização garante:

  1. a construção de uma arquitetura comum para a publicação das bases de dados;
  2. que todas as publicações de dados das diversas entidades do governo sejam realizadas seguindo os mesmos procedimentos e possuam a mesma estrutura, deixando as bases mais robustas, consistentes e confiáveis;
  3. a interoperabilidade entre as bases, facilitando assim a agregação de bases distintas e criando novas possibilidades de análise dos dados publicados;
  4. que os usuários demandem um menor esforço ao utilizar dados publicados por entidades diferentes.

A padronização também facilitará esforços futuros para manutenção ou adequações dos dados publicados pela própria entidade.

Experiências internacionais apontam para a criação de uma entidade com a atribuição de centralizar as políticas e ações do governo para dados abertos e disseminar tais políticas para todas as unidades do governo. A esta entidade, caberá a centralização dos dados publicados, unindo conjuntos de dados, previamente desconectados, de várias entidades, com o objetivo de construir uma plataforma abrangente de dados, com os registros de todas as atividades do governo e, ainda, servir como fonte de dados integrada para os potenciais usuários. Para tal, esta entidade necessitará:

  1. possuir forte patrocínio que lhe conferirá a liderança necessária;
  2. ter recursos financeiros suficientes para desenvolver suas atribuições e projetos;
  3. definir claramente sua estratégia, seu planejamento e seus recursos para a execução;
  4. ter um modelo de governança dos dados;
  5. apontar exemplos de sucesso que demonstrem as boas práticas disseminadas;
  6. auxiliar todas as unidades do governo na publicação de dados;
  7. realizar eventos que promovam e disseminem a importância dos dados abertos.

As regras e procedimentos definidos para a publicação de bases de dados, bem como o modelo de governança adotado, a estratégia, o planejamento e as ações da entidade, devem ser divulgados para todos os interessados e atores envolvidos.

No Reino Unido, o “Open Data User Group” 44 e na cidade de Nova Iorque, o Departamento de Tecnologia da Informação e Telecomunicações são exemplos de entidades que têm obtido grande sucesso ao desempenhar suas atribuições e aumentar consideravelmente os dados publicados

O monitoramento e mapeamento dos usuários que utilizam os dados publicados pelo governo podem possibilitar a identificação de negócios gerados ou que utilizam os dados. A maioria desses negócios gera impacto na economia, à medida que novas vagas de empregos são criadas para que o negócio funcione, ou ainda oferecendo serviços que permitem aos clientes diminuir despesas próprias ou ter acesso a oportunidades de negócios. Por meio do monitoramento dos usuários dos dados abertos, o governo federal norte-americano lista, usando a ferramenta IMPACT46, quais negócios foram gerados com os dados abertos divulgados pelo projeto de dados abertos federal americano. Nesse exemplo, o catálogo informa o nome do negócio, um resumo de suas atividades ou produtos oferecidos, o link para o site, a localização, quantos empregos diretos são gerados pelo negócio e quais bases de dados são utilizadas. Os visitantes podem também indicar negócios ainda não listados na ferramenta.

B. Facilitando os esforços para a publicação de dados abertos

Transformar os serviços prestados pelo governo aos cidadãos em serviços de governo no formato digital é uma estratégia que facilitará a produção e a disponibilização de dados abertos. Com essa abordagem, o governo do Reino Unido propôs um guia para auxiliar os servidores na transformação dos serviços tradicionais em serviços digitais.

Um exemplo de mudança simples, mas com potencial de gerar grande impacto, é substituir a forma como um cidadão solicita ao governo um serviço do formulário impresso pelo formulário eletrônico. Com o formulário eletrônico, é possível obter uma informação mais precisa do que está sendo pedido, uma vez que o formulário digital permite que se padronize as opções de escolha e detalhamento do solicitante, possibilitando assim uma primeira resposta mais rápida e assertiva do pedido. E, com todos os dados em um banco de dados, consequentemente a publicação em formato de dado aberto de todas as solicitações recebidas pelo governo será mais fácil.

A seguir, apresentamos os 10 passos propostos para essa evolução na prestação dos serviços. Para se aprofundar no assunto, não deixe de visitar o material completo em www.gov.uk/design-principles.

1 – Comece com as necessidades do usuário

As necessidades dos usuários podem não ser as necessidades do governo. O Projeto (“Design”) de um Serviço deve começar com a identificação das necessidades do usuário. Quando não se conhecem as necessidades do usuário, corre-se o risco de não construir algo útil. Pesquise o assunto, reflita sobre as informações, converse com os usuários e evite suposições. Tenha empatia pelo usuário, ou seja, coloque-se no lugar dele, mas cuidado, nem sempre o que o usuário solicita é o que ele realmente precisa.

2 – Faça menos

O governo só deve fazer aquilo que pode fazer. Se for possível encontrar uma maneira de fazer determinada tarefa usando algo que funcione, deve-se compartilhar essa solução e permitir que ela seja reutilizada, em vez de se “reinventar” a solução a cada vez que ela for útil. Isso significa que devemos construir plataformas para os serviços e permitir que outros usuários possam construir novas soluções utilizando essas plataformas, como, por exemplo, oferecendo APIs para acesso aos dados da solução ou permitindo a integração com outras soluções.

3 – Utilize dados no projeto

Em muitos casos, pode-se aprender o comportamento das coisas no mundo real observando como os serviços existentes são utilizados. Utilize os dados na tomada de decisões do projeto, ao invés de suposições ou palpites. Continue utilizando os dados nas decisões quando a solução ganhar vida, desde a prototipagem, nos testes e nas interações com o usuário final.

4 – Transforme o trabalho complicado em uma atividade simples

Fazer algo parecer simples pode ser fácil, mas fazer com que algo seja simples de usar pode ser uma tarefa muito mais difícil, especialmente quando a atividade depende de outros sistemas ou variáveis que sejam um tanto quanto complexas. Mas não desanime, não se permita aceitar a famosa afirmação “sempre foi assim” como resposta, pois os resultados poderão ser tão compensatórios quanto o esforço para tornar a atividade simples.

5 – Aproveite ao máximo as iterações

A melhor maneira de construir bons serviços é começar pequeno e realizar sucessivas iterações no projeto. Disponibilize a solução em um produto minimamente viável, ou seja, com as funcionalidades básicas, teste-o com os usuários reais e, a partir dos feedbacks, vá incrementando, alterando ou removendo itens da solução, gradativamente. Disponibilize para testes, colha os feedbacks, ajuste a solução e recomece o ciclo. A interação reduz o risco de uma grande falha no final, melhor ter pequenas falhas que podem ser facilmente corrigidas e readequadas ao longo do projeto.

6 – Lembre-se, a solução será utilizada por todos

Um projeto acessível é um bom projeto. Deve-se pensar que as soluções construídas devem ser o mais abrangente, acessível e legível possível. Se a solução não puder ser “refinada” e “elegante”, tudo bem, estas devem ser projetadas de acordo com as necessidades, sem que se tornem complicadas de usar. Lembre que as soluções poderão ser usadas por todos os potenciais usuários, e não apenas por aqueles que têm familiaridade com a internet. Normalmente, as pessoas que mais precisam de um serviço são aquelas que têm a maior dificuldade em encontrá-lo. Lembre-se destes usuários desde o começo.

7 – Entenda o contexto

Lembre-se, o serviço não é projetado para uma tela de computador, ele é projetado para as pessoas. Procure pensar no contexto a que as pessoas estão sujeitas ao utilizar o serviço. Será que usarão o computador de casa ou o do Acessa São Paulo? Será que estão no smartphone? Será que são familiarizadas com a internet? Reflita em que contexto o serviço será acessado.

8 – Construa serviços digitais e não websites

Um serviço é algo que ajuda as pessoas a fazer alguma coisa. É fundamental, num projeto, descobrir as necessidades do usuário e construir um serviço que atenda suas necessidades. O mundo digital precisa se conectar com o mundo real, portanto, é preciso preocupar-se com todas as variáveis que afetam o serviço e certificar-se de que o que está sendo desenvolvido atenda as necessidades do usuário e não seja simplesmente uma página web.

9 - Seja consistente, não uniforme

Procure usar a mesma linguagem e os mesmos padrões de projeto sempre que possível. Isso ajudará as pessoas a se familiarizarem com os serviços disponibilizados, mas quando isso não for possível, procure garantir que a abordagem adotada seja consistente. Ser consistente não significa que algo deva ser sempre feito do mesmo modo, pois cada caso pode ter suas peculiaridades. Quando encontrar padrões que funcionem, compartilhe-os e demonstre porque usá-los. Entretanto, encontrar um padrão que funcione, não deve limitá-lo e impedi-lo de procurar por melhorias e novos padrões no futuro. Quando encontrar um padrão melhor ou as necessidades dos usuários mudarem, não bloqueie a mudança.

10 – Construa soluções transparentes e abertas, isso as tornará melhores

Compartilhe o que estiver construindo sempre que possível. Faça isso com colegas, com usuário, com o mundo. Compartilhe códigos, compartilhe projetos, compartilhe ideias, compartilhe intenções e compartilhe erros e fracassos. Quanto mais pessoas puderem colaborar com um serviço, melhor ele poderá se tornar. Lembre-se, o objetivo é ser transparente e disponibilizar cada vez mais dados abertos, então disponibilizar as soluções criadas e o conhecimento gerado faz parte dessa filosofia.

C. Organizando Eventos para promover seus dados abertos

I. Competições e premiações para o desenvolvimento de aplicativos e softwares

Competições que envolvem premiações ou desafios podem ser um bom caminho para as instituições de governo que desejam impulsionar a criatividade e a inovação na resolução de problemas relacionados à missão da organização. Um exemplo são os desafios para desenvolvimento de soluções em que os participantes são convidados a desenvolver um software para um problema específico ou ainda outras soluções técnicas como algoritmos, sítios web ou aplicativos móveis.

Um desafio de Software ou App, por exemplo, é quando uma instituição pede aos participantes que desenvolvam um software que pode ter de utilizar um conjunto pré-definido de dados ou que tenha um conjunto de funcionalidades definidas pela instituição, buscando resolver um problema existente ou chamar a atenção do público para um conjunto de dados disponibilizados.

Premiações costumam atrair negócios ou programadores interessados e com potencial para colaborarem na resolução do problema. Como exemplos de competições que buscam chamar a atenção para bases de dados publicadas, podemos destacar a da prefeitura de Nova Iorque, com a premiação NYC BigApps42, e a da prefeitura do Rio de Janeiro, com o concurso RioApps43. Já com o objetivo de resolver um problema específico e bem detalhado, podemos citar os editais publicados em 2015, um, pelo Laboratório de Mobilidade44 da Prefeitura de São Paulo e outro, pela Secretaria de Governo do Estado de São Paulo, o PitchGov45.

Abaixo apresentamos algumas dicas que podem auxiliar no planejamento e na execução de um desafio46:

  1. Decidir que tipo de solução se procura. A solução mais adequada pode variar dependendo do que se busca, como, por exemplo, ideais, protótipos ou soluções funcionais e completas, como um software, aplicativo ou algoritmo.
  2. Dependendo da complexidade final da solução, uma série de pequenos desafios poderá obter um resultado melhor do que realizar um único e grande desafio que exigirá mais tempo e recursos.
  3. Avaliar a possibilidade de realizar os desafios em duas fases. A primeira teria como foco a geração de ideias e propostas. Na sequência, a segunda fase terá como foco a construção de protótipos, aplicativos funcionais ou soluções completas.
  4. Definir se a solução criada será com código fonte aberto, que outros interessados poderão utilizar e desenvolver melhorias e evoluções, ou se a instituição deverá possuir os direitos de propriedade intelectual, ou o licenciamento adequado para utilizar a solução.
  5. Identificar que premiações motivarão os participantes adequados: Você possui acesso a pessoas-chave na área e que poderão ser os avaliadores das soluções? É possível oferecer treinamentos com empresas de consultoria ou oportunidades de negócios com investidores? A premiação em dinheiro será suficiente para atrair os possíveis interessados para que dediquem tempo ao desafio?
  6. Considerar a participação do público na escolha do vencedor. Pode-se permitir que o público participe diretamente da escolha por meio de votação ou indiretamente fazendo comentários sobre as submissões, com o objetivo de melhorar ainda mais a solução.
  7. Definir claramente o que se está buscando, quais são os dados e informações disponíveis, como será utilizada a solução desenvolvida e demais informações que julgar relevantes. Assim os concorrentes poderão desenvolver soluções melhores e saberão exatamente como suas contribuições serão utilizadas.
  8. Definir desde o começo e apresentar, nas regras do concurso, os detalhes sobre a propriedade da tecnologia a ser desenvolvida e utilizada, os critérios para a inscrição e quem poderá participar, como as submissões serão avaliadas e como os prêmios serão concedidos.

Existem diversas formas de executar um desafio de software ou aplicativo. Especialistas no assunto possuem páginas dedicadas a apresentar roteiros e detalhes que poderão enriquecer ainda mais sua compreensão sobre a realização de desafios. Sugerimos alguns links a seguir:

  1. Por onde começar (http://www.digitalgov.gov/2014/03/31/get-started-with-challenge-and-prize-competitions/)
  2. Planejando o desafio (http://www.digitalgov.gov/2013/05/08/planning-an-apps-challenge/)
  3. Como definir as regras para o desafio (http://www.digitalgov.gov/2012/07/09/how-to-implement-an-apps-challenge/)
  4. Desafios para geração de ideias (https://www.digitalgov.gov/2013/11/14/ideation-challenges/)
  5. Desafios para apresentação de tecnologias (https://www.digitalgov.gov/2013/10/31/technology-demonstration-and-market-stimulation-challenges/)
  6. Desafios para criatividade e elaboração de conteúdos (https://www.digitalgov.gov/2013/10/31/creative-challenge-contests/);
  7. Exemplos de competições (https://www.challenge.gov/list/);
  8. Dicas para medir o sucesso nas competições de desafios (https://www.digitalgov.gov/2014/03/20/six-tips-for-measuring-success-in-challenge-competitions/)
  9. O que fazer após o desafio (http://www.digitalgov.gov/2012/07/09/how-to-improve-an-apps-challenge/)

Para completar e inspirar, segue uma relação de governos que utilizam os desafios e competições como alternativas para a inovação e a solução de problemas:

  1. Nova Iorque, EUA (http://bigapps.nyc/p/)
  2. Rennes, França (http://www.data.rennes-metropole.fr/)
  3. Portland, EUA (http://civicapps.org/)
  4. Rio de Janeiro, Brasil (http://rioapps.com.br/)
  5. São Paulo, Brasil (http://mobilab.prefeitura.sp.gov.br/projetos/)

II. Hackatons

Hackathons são eventos em que desenvolvedores, designers e estrategistas trabalham em conjunto para resolver problemas, usando softwares ou hardwares e demonstram o resultado no final do evento. Normalmente os eventos duram de 12 a 48 horas.

Existem vários tipos de hackathons, assim, para um melhor resultado, é importante que tanto os organizadores quanto os participantes tenham conhecimento claro dos objetivos e o que cada um espera do evento. Destacamos os tipos mais comuns de hackathons:

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Fonte: http://blog.devpost.com/post/111955484938/the-five-most-common-types-of-hackathons

Dependendo do seu objetivo, um hackathon pode ser útil ou não.

Um hackathon não será útil quando o objetivo for a construção de um aplicativo totalmente acabado. Isso porque dificilmente uma equipe conseguirá construir uma solução que resolva todos os problemas apresentados em apenas um final de semana. Normalmente o que se consegue, em um evento desse tipo, são protótipos ou ideias minimamente funcionais testadas ou prontas para testes.

Outro objetivo que dificilmente será alcançado nestes eventos é fazer com que as pessoas passem a utilizar seu produto ou sua plataforma. Mesmo que você ofereça uma premiação para a melhor ideia ou solução que utilize o seu produto ou plataforma, na prática você não estará realizando um hackathon cívico, mas sim um hackathon de marketing.

Outro objetivo que dificilmente será alcançado é o de construir um aplicativo muito específico para uma necessidade muito específica. Se você possui um escopo de trabalho bem definido, talvez devesse contratar alguém para resolvê-lo ou pudesse realizar um desafio de software, conforme descrito no item “I. Competições e Premiações para o desenvolvimento de aplicativos e softwares”.

Por outro lado, um hackathon cívico poderá ser muito útil quando seu objetivo for o de organizar pessoas para discutir um problema específico e gerar ideias. Quando existir um problema em particular que possua recursos disponíveis para serem utilizados na tentativa de resolvê-lo, organizar um hackathon no assunto poderá ajudar a debater ideias sobre como lidar com o problema. Mas, para funcionar, você precisará de especialistas no assunto e de tecnólogos trabalhando juntos.

Organizar um hackathon com o objetivo de recrutar pessoas para uma comunidade cívica de inovação também pode ser um objetivo útil para esse tipo de evento. Um hackathon pode ser uma boa forma para uma determinada comunidade. Normalmente esse tipo de hackathon é voltado para iniciantes no assunto e oferece treinamentos sobre o tema para seus participantes.

Testar uma nova base de dados publicada ou uma API de serviços também pode ser um bom objetivo para um hackathon. Entretanto, os dados por si só não serão suficientes. Especialistas no assunto precisam participar e estar dispostos a auxiliar os tecnólogos, explicando o que realmente os dados estão mostrando. Esse tipo de evento pode ser muito útil para identificar que tipos de projetos podem ser feitos a partir da nova base de dados ou da API publicada.

Para mais detalhes sobre como organizar passo a passo um hackathon, os preparativos e cuidados a serem tomados antes, durante e depois do evento, sugerimos os links a seguir.

  1. Civic Innovation Toolkit: How to run a civic hackathon (http://www.smartchicagocollaborative.org/civic-innovation-toolkit-how-to-run-a-civic-hackathon/)
  2. How to run a successful Hackathon (https://hackathon.guide/)
  3. Hackathon Best Practices Guides (http://post.devpost.com/app_contest_resources)